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“O Brasil precisa de santos” Entrevista com Dom Roberto

Atualmente, existem no Brasil vários processos de candidatos à santidade, alguns deles em andamento Arquidiocese do Rio de Janeiro, e que despertam em um grande interesse sobre o assunto.

É preciso conhecer mais sobre essas pessoas que foram modelos de vida cristã e como se dá esse processo de canonização. Para isso conversamos com o vigário espicopal para os Institutos de Vida Consagrada, Sociedades de Vida Apostólica, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidade, Dom Roberto Lopes. Dom Roberto é também o delegado para a causa dos santos da arquidiocese.

Pascom – No momento, quantos processos de candidatos à santidade existem no Brasil?

Dom Roberto – Atualmente, temos aproximadamente 74 processos. João Paulo II, depois que incentivou a Igreja do Brasil, quando dizia: “o Brasil precisa de santos”, ocupou, como vamos observando, as dioceses e arquidioceses, que estão se organizando de maneira mais clara, avançando. Sempre temos notícias de uma diocese ou outra abrindo processos, às vezes de um sacerdote que realizou um trabalho muito longo. Mas, por incrível que pareça, existem muitos processos que estão focados no laicato.

Pascom – Aqui no Rio de Janeiro temos quatro processos, certo?

Dom Roberto – Na realidade, nós temos cinco candidatos. O processo mais antigo foi em 1980. É de Madre Maria José Capistrano de Abreu, que doou o Carmelo Santa Teresa. O seu processo já se encontra em Roma, está na fase final dentro daquilo que, porventura, tenha de ser esclarecido. Depois, temos o caso da Odetinha, que também já se encontra em Roma. Temos, ainda, o processo de Zélia e Jerônimo, que está na fase final de análise. Podemos ver que, no Rio de Janeiro, temos uma monja, uma menina de 9 anos, um casal, Zélia e Jerônimo, e temos ainda o Guido Schäffer, que é o último que abrimos. O processo completou um ano. Pretendemos, até o mês de maio ou, no máximo, até julho, concluir a fase diocesana. É um processo que tem chamado muita atenção, seja pela juventude de Guido, pelo fato de ter sido médico, por ser um seminarista, ou ainda pelo fato de ter sido um surfista. Dentro dos apelos de santidade, é um modelo que cria certo impacto. Por outro lado, vemos também que na figura de um casal é possível a santidade no matrimônio. Muitas vezes se fala em santidade relacionada a freiras, religiosos, bispos, padres, mas verificar a figura da santidade de um casal é muito mais raro. No ano passado, durante o Sínodo da Família realizado em Roma, foram canonizados os pais de Santa Teresinha. Entretanto, são pouquíssimos os processos de casais santos no mundo.

Agora o Rio de Janeiro, pouco a pouco, está avançando. O grande desejo de Dom Orani (Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro) é de termos ainda a abertura de processo de um sacerdote também. Ter o modelo de um sacerdote. Estamos trabalhando a respeito disso para, em um futuro bem próximo, abrirmos esse processo, que ainda está sob sigilo.

Pascom – Esses nomes são de pessoas muito próximas de nós. Como acontece essa busca da santidade, em especial para os jovens, e como identificar no outro essa chama?

Dom Roberto – É evidente que a Igreja já tem esse lado na tradição, de trazer figuras que são elevadas ao altar; mas, por outro lado, nós temos muitos santos que vivem no anonimato.

Qual o sentido da santidade? O que é a santidade? Santidade se constrói no cotidiano, no dia-a-dia. Certamente convivemos com muitos santos, sendo que nesses que mencionamos agora, o caso da Odetinha, temos as colegas de estudo do Colégio Sion que ainda estão vivas, conviveram no dia-a-dia, participaram das aulas juntas. Temos também a figura do Guido, que é tão recente; temos apenas 7 anos de distância do seu falecimento. Esses são testemunhos muito claros, muito vivos, o que é importante para a pastoral. Nós estamos percebendo que desde que iniciamos aqui na arquidiocese a causa dos santos – inclusive como pastoral, levando as relíquias de João Paulo II para as paróquias, Santa Terezinha de Lisieux, irmã Dulce, agora também Madre Teresa de Calcutá, cuja canonização é iminente -, estamos mostrando que todos são pessoas que estiveram entre nós.

João Paulo II esteve duas vezes aqui no Rio de Janeiro; Madre Teresa de Calcutá esteve no Rio de Janeiro; João Paulo II visitou por duas vezes irmã Dulce; Madre Teresa visitou irmã Dulce. Então podemos dizer que esses santos se visitavam, tinham um conhecimento. Hoje nós estamos na festa do encontro, a Apresentação do Senhor, quando se celebra também a vida consagrada. O dia do consagrado, a vida em Cristo é um dos encontros. Jesus ia ao encontro de todos aqueles que estavam enfermos, doentes, feridos, precisavam de uma consolação. Os santos também têm um pouco desse “insight” de ir ao encontro das pessoas feridas, machucadas. Em geral, o olhar de todos esses nossos candidatos é um olhar de compaixão e de misericórdia. O Guido era um homem muito sensível ao exercer a sua medicina, mas, ao mesmo tempo, era um jovem que vivia a sua intimidade profunda com Deus, se aprofundando na Palavra, na oração pessoal. É isso que nós temos que mostrar: que cada um de nós, como batizados, temos que ser atletas do Senhor, e ser atleta é se exercitar todos os dias na vida de oração e na vida da caridade também, como o próprio Papa Francisco nos pede neste ano da misericórdia.

Odetinha, uma menina de 9 anos, era profundamente sensível ao outro, ia ao encontro daquele que tinha fome, que precisava ser vestido, que precisava de uma palavra, mas, ao mesmo tempo, era uma menina adoradora do Santíssimo Sacramento.

É isso que temos que estimular em nossas paróquias, porque já temos essas figuras que estão caminhando, que estão entre nós, mas algumas irão se destacar. É o caso do Guido, de Zélia e Jerônimo, da Odetinha e de Madre Maria José Capistrano de Abreu.

Pascom – Podemos dizer então que o exemplo dessas pessoas, esses processos, são uma renovação e um fortalecimento da fé do povo de Deus.

Dom Roberto – Exatamente. Por isso, o objetivo da Igreja quando abre um processo de canonização ou beatificação é trazer um ícone como modelo. E como são importantes esses modelos!  Ainda hoje, conversando com alguns bispos, falávamos que o Brasil tem candidatos lindos! No Rio, a figura do Guido tem chamado muita atenção, não só no âmbito do Rio de Janeiro. Há pouco tempo, tivemos o retiro Renascer dos seminaristas, para o qual foram levadas algumas peças e relíquias de Guido. Como os seminaristas de todo o Brasil ficaram maravilhados pelo exemplo! Agora, no último fim de semana, a RCC promoveu um encontro em Aparecida e também lá, onde as relíquias estiveram por três dias, é impressionante, pois mais de 10 mil pessoas ficaram encantadas em conhecer. No Brasil se fala muito pouco de uma mártir jovenzinha, também adolescente, da diocese de Tubarão, Albertina. Por que não buscar conhecer a vida dessa jovem, que é um grande modelo? No século passado, tivemos grandes mártires, como Maria Goretti. Aqui no Brasil, nós temos a figura de Albertina. São esses modelos, que são ícones, que vale a pena conhecermos.

 

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