A Igreja celebra a vida de Francisco de Paula Victor, beatificado em 14 de novembro de 2015, reconhecido como o primeiro ex-escravo nascido no Brasil a receber esse título. A sua trajetória não foi marcada por privilégios, mas por coragem, serviço e profunda humildade – convicções que ainda hoje inspiram fiéis no país inteiro.
Um homem moldado pela adversidade
Nascido em 12 de abril de 1827, na cidade de Campanha (MG), Francisco teve sua infância marcada pela escravidão: sua mãe, Vicência Maria de Jesus, era uma mulher escravizada; o pai, ausente, permanece desconhecido. Mesmo em meio à privação, ele despertou para a vida religiosa, ingressando em 1849 no Seminário Nossa Senhora da Boa Morte, na antiga Diocese de Mariana. Em 14 de junho de 1851, foi ordenado padre por Dom Antônio Ferreira Viçoso.
Logo depois, em 1852, foi enviado a Três Pontas, onde dedicou mais de 50 anos de ministério pastoral. Ali, além dos sacramentos, tornou-se defensor incansável dos pobres, dos escravizados, daqueles cujos direitos eram negados. Fundou a Escola Sagrada Família, acolheu crianças sem acesso à educação, denunciou injustiças e viveu o sacerdócio com simplicidade, alegria e amor.
Testemunho que desafia conveniências
Em um Brasil escravocrata, padre Victor não se calou. Ele proclamou uma fé que exige ação: denúncia, serviço e amor ao próximo. Sua vida incomodava quem detinha poder, mas confortava quem vivia oprimido. Mesmo após a abolição formal da escravidão, sua luta continuou: contra o preconceito e contra a exclusão social, sempre orientada pelo Evangelho.
Sua coerência chamou a atenção de muitos, devotos e autoridades eclesiásticas, ao ponto de gerar devoção popular já em vida. A beatificação foi o reconhecimento da Igreja não apenas de milagres, mas de uma existência vivida como dom.
O legado que persiste
Padre Victor faleceu em 23 de setembro de 1905, em Três Pontas, mas sua memória permanece viva nos corações daqueles que buscam justiça e fraternidade. Celebrado liturgicamente nessa data, ele é invocado por pessoas humildes, marginalizadas e comunidades inteiras que veem nele o exemplo de que fé sem obras não basta.
Seu chamado é claro: amar aos pobres, denunciar as estruturas de opressão, educar com carinho e viver a fé com coragem.
Para refletir
Em tempos de indiferença, qual será a nossa resposta? Podemos nos limitar a admirar seus feitos de longe ou assumir um compromisso concreto de solidariedade no nosso dia a dia.
Que, por intercessão de padre Francisco de Paula Victor, sejamos fortalecidos na fé, ousados na caridade e coerentes na justiça. Rogai por nós!
Redação: Julia Fernandes
Revisão textual: Rochelle Lassarot