Marcello Alves Marinho
Jovem Missionário para Honduras
Marcello Alves Marinho é um jovem de 23 anos e faz parte de nossa comunidade há mais ou menos 15 anos, sempre participando das atividades da paróquia. Afastado por algum tempo por conta da faculdade, formou-se em odontologia e este ano decidiu deixar tudo e seguir em missão para Honduras. A Pascom conversou com Marcelo antes de sua viagem, para conhecer um pouco melhor o trabalho missionário desse jovem.
Pascom – Marcello, conte para nós como é essa missão?
Marcello – Bem, a missão é na capital de Honduras, Tegucigalpa, e eu vou para uma comunidade francesa chamada “Pontos Coração”, que conheço desde 2011. Desde essa época, estou em contato com Padre Arnaud, um dos divulgadores da missão pelo Brasil. Falei então do meu desejo de um dia talvez sair em missão, uma vez que naquele momento eu não poderia, devido aos meus estudos. Então ele fez a proposta de que eu fosse a Salvador durante algum tempo e fizesse uma experiência lá. Nesse mesmo ano (2011), aproveitando minhas férias, fiz essa experiência. Gostei muito e pedi a ele para continuar. Retornei a Salvador ainda umas três vezes e, por fim, após o término de meus estudos, escrevi uma carta de compromisso à Comunidade, expressando o meu desejo de sair em missão. A Comunidade tem um grupo que escolhe para onde os missionários irão. São missionários do mundo inteiro e nós ficamos em uma casa, com mais cinco ou seis jovens e um líder – um padre, uma irmã ou um missionário permanente, que é quem consegue organizar a nossa casa.
Pascom – Qual é o carisma da Comunidade?
Marcello – O carisma da Comunidade é a compaixão, ou seja, estar de pé como Maria esteve de pé diante da cruz de Jesus, e nós estamos onde estão aqueles que mais necessitam, que estão na cruz, que desejam a morte, que estão na solidão, que não têm nada. Não é só uma carência material, mas uma carência espiritual, psicológica. Então esse é o nosso desejo: estar presentes junto àqueles que mais precisam, em especial as crianças.
Pascom – Você contou que esteve três vezes em Salvador. Em que locais a Comunidade está presente?
Marcello – A Comunidade tem duas casas na Bahia; uma fica na favela chamada de “Coroa da Lagoa”, uma casa onde ficam cinco missionários, e há uma casa “Pontos Coração” que é um pouquinho diferente, existente apenas no Brasil e na Índia, que é uma fazenda. Então eu tive essa oportunidade de ir à Bahia e ficar metade do tempo na fazenda, onde fiz uma experiência, e a outra metade na favela.
Pascom – Essa experiência na Bahia já foi um início de aprendizado para a sua missão em Honduras?
Marcello – Sim. Dizem que o brasileiro tem um pouco de dificuldade de “largar tudo” e sair em missão. Isso é muito comum entre os europeus, então poucos brasileiros vão. Eu sou o primeiro carioca, porque uma missionária de Niterói já foi antes. Esses missionários ficam em torno de 14 a 24 meses. Eu vou ficar 13 meses e meio, 14 meses.
Pascom – Como surgiu esse desejo de ser missionário?
Marcello – Eu sempre fui muito participativo na Paróquia e tive muitas oportunidades de conhecer diversos ramos da Igreja. Esse foi um convite que me chamou a atenção. Na primeira vez em que o padre Arnaud esteve aqui, acho que em 2009 ou 2010, fez o convite e eu não falei com ele; fiquei com aquilo na cabeça, com aquele “problema”, com o coração um pouco apertado, mas deixei passar. Na segunda visita do padre, ele fez novamente o convite e eu pensei: “Agora é a hora”. Então resolvi passar o “problema” para ele, porque eu precisava terminar meus estudos. Falei com ele sobre meu desejo de participar. Foi então que ele fez o convite para a experiência na Bahia e foi com essa experiência que eu mantive a chama desse desejo acesa.
Pascom – Você vai trabalhar em comunidades com pessoas carentes. Fala um pouco desse amor, dessa vontade que te move.
Marcello – O carisma da Comunidade é a compaixão, e eu acho que me encaixei muito bem nesse carisma, porque eu sempre tive esse anseio e sempre que possível eu tentei ajudar o próximo e por inteiro, porque às vezes a gente trabalha, faz tanta coisa, vai atropelando tudo e acaba por não fazer aquilo que a gente sente no coração. O que senti no coração foi o desejo de ter essa experiência profunda com Deus, de poder ajudar aqueles que mais precisam, de ter um coração livre para ir aonde Ele está chamando. Acho que é isso, olhar para aquelas pessoas com os olhos de Jesus, com misericórdia, sem julgamento, enfim, ser presença de Deus na vida dessas pessoas.
Pascom – Quais são os desafios que você espera encontrar em Honduras?
Marcello – Embora eu já tenha estudado espanhol, nesses vinte dias que fiquei na Bahia em preparação, o trabalho foi mais voltado para a missão em Honduras. Falei o tempo todo em espanhol com os missionários que são nativos desse idioma, com isso tentando quebrar essa barreira da língua. Mas sei que essa vai ser uma barreira grande. Falo um espanhol muito básico; sei que essa vai ser uma barreira, mas sei também que haverá outras, como a barreira da aceitação de um novo missionário, porque a partida de um missionário é uma dor muito grande para a comunidade. Então a ansiedade por as pessoas gostarem de mim ou não é uma barreira. Viver em comunidade é uma coisa muito difícil também. Eu peço a Deus muita humildade e obediência para conseguir viver junto com os outros. Embora sejam cinco pessoas dentro de uma casa, ninguém pensa da mesma forma; mas se estivermos focados em Deus, tudo dá certo. Contudo, acho que uma barreira mais complicada é a de conseguir entregar a Deus as dores daquelas pessoas que nós acolhemos, não receber esse fardo para mim, mas poder contar com Deus, que vai agir através de mim. Muitas vezes absorvemos os problemas das pessoas e corremos o risco de cair, e o nosso objetivo não é esse; é de ser luz naquele lugar e não mais um problema.
Pascom – Como você está se preparando espiritualmente para conseguir superar tantas dificuldades?
Marcello – Acho que, desde o primeiro momento, essa preparação concentrou-se na humildade, em ter um coração muito humilde para obedecer, reconhecer os nossos erros, porque queremos fazer tudo na missão, fazer as coisas por todo mundo. Temos que reconhecer que somos falhos, que não podemos fazer tudo por todo mundo. Durante esse tempo todo, eu também me preparei para receber todos com muita caridade. Nesse tempo de preparação, eu pedi a Deus o tempo todo que eu possa ser luz na vida dessas pessoas. E também rezei, confiando em Deus e aprendendo a me entregar, entregar os meus anseios, problemas, pedindo para que Ele ilumine meus passos. Quando a gente confia em Deus, vai com o coração mais livre.
Pascom – Porque você escolheu uma missão fora do Brasil?
Marcello – É engraçado. O padre Arnaud, o responsável pelo meu envio, me perguntou se eu gostaria de estar aqui no Brasil, eu não sei bem o porquê, mas acho que eu falei uma frase mais ou menos assim: “os brasileiros gostam muito do estrangeiro”, não que aqui eu quisesse ser alguém, mas eu acho que lá justamente eu não seria ninguém, eu não seria o Marcelo que é dentista, que mora no Rio de Janeiro; essas seriam expectativas que aqui as pessoas teriam sobre mim. Não que eu não quisesse carregar essas expectativas, mas justamente não ser ninguém, ou ser, sim, um missionário, um discípulo de Jesus, alguém que está ali pelas pessoas, sem nada, sendo apenas alguém que pudesse falar ou mostrar um pouquinho Jesus para as pessoas.
Pascom – Como foi o apoio da família e da namorada?
Marcello – Tudo foi muito gradativo. Deus preparou esse caminho com o tempo; primeiro eu conheci a comunidade, me empolguei, mostrei a eles o que era, e ficaram muito felizes. E a cada vez que eu ia à comunidade, ia mostrando para eles que era cada vez mais sério. Então foi uma notícia dada aos poucos e, quando me dei conta, meus pais já diziam “se é isso que você quer, tudo bem”. A minha namorada, desde quando começamos a namorar, já sabia que eu tinha a intenção de fazer parte dessa missão, de ter uma vida missionária nesse período de 14 meses. Então foi um pouco mais fácil para ela entender do que para meus pais. Quando fui chamado para Honduras, foi um pouco difícil, na verdade; meus pais ficaram preocupados porque Honduras é um país que não se conhece muito e quando se houve algo sobre ele, normalmente não são coisas tão boas. Então nessa hora foi um pouco mais difícil, mas quando estamos firmes em Deus, em oração, tudo dá certo. Eles conseguiram ver que aquilo era escolha de Deus, que foi um caminho que Deus preparou e, apesar da ansiedade, todos ficaram muito bem.
Pascom – Finalizando, Marcelo, conta pra gente o que é ser missionário?
Marcello – Primeiro é ter dentro de nós a chama acesa de Deus, porque ser missionário não é só largar tudo ou reservar um determinado tempo de sua vida para a missão. Na verdade, todos aqueles que são cristãos têm uma missão: a missão de evangelizar, levar Cristo a quem precisa e transformar as pessoas através de Deus pelo Espírito Santo. Acho que é isso, todo mundo tem um espírito missionário. Para ser um missionário, basta querer. Muitas vezes se pensa que é preciso saber falar, etc., mas não. Deus capacita, Ele vai mostrando o caminho e quando a gente se entrega de verdade isso acontece de uma forma fácil. Existem pedras no meio do caminho, sabemos que quanto mais conseguimos para Deus, mais o inimigo tenta dificultar o nosso caminho, se não pelos nossos vícios, pelas nossas virtudes.
Pascom – Deixe uma mensagem para que os jovens tenham um ânimo novo, não que seja para a missão, mas para que estejam mais perto de Jesus.
Marcello – Há uma música de que eu gosto muito, que fala assim: “o que você fez ou deixou de fazer não mudou o início, Deus escolheu você”. A gente tem um propósito, um chamado, não dá para olhar para os nossos pecados como um fardo que se vai carregar para a vida inteira. O que a gente fez ou deixou de fazer não vai mudar o início, se Deus chamou a gente… o nosso sim é diário. Não importa que a gente caia. O que importa é que não se caia sozinho, porque temos que ter a certeza de que Deus está ao nosso lado para nos levantar. Assim é a nossa comunidade: quando a gente cai, sabe que tem sempre um irmão, em Nome de Jesus, para nos levantar.