A imagem em que Kim Phuc Phan aparece correndo despida tornou-se icônica.
A “menina do napalm”, premiada por sua vida dedicada à paz: “Essas bombas me levaram a Cristo”
Kim Phuc Phan, conhecida como “a menina do napalm” hoje é uma reconhecida ativista pela paz e em defesa da infância.
J. Lozano / ReL
12 de fevereiro de 2019
A imagem de uma menina de 9 anos, que corre despida, chorando, queimada pelo napalm, deu a volta ao mundo em 1972, em plena guerra do Vietnã, convertendo-se, com o passar dos anos, em uma das imagens mais icônicas e representativas da guerra.
Aquela que ficou conhecida como “a menina do napalm” chama-se Kim Phuc Phan e atualmente é uma ativista pela paz, que ajuda a construir escolas, dispensários e orfanatos, cujo trabalho acaba de ser reconhecido esta semana com o Prêmio Dresden da Paz.
Uma vida dedicada à paz
Quase meio século depois, as feridas causadas por aquela bomba continuam bem visíveis no corpo de Kim Phuc. De fato, as lesões ainda precisam ser tratadas, e não se consegue escapar daquela fotografia, supondo-se que ela sempre será aquela menina. “Quando estou sozinha, tento evitar essa imagem. Mas ela me permite trabalhar pela paz, e assim me conformo”, afirmou Kim Phuc à agência alemã DPA depois que o prêmio foi anunciado.
Aquelas bombas marcariam a vida de Kim Phuc para sempre. Provocaram grande dor e sofrimento, mas ela confessa que também acabaram por levá-la a Cristo. “Sempre carregarei as cicatrizes daquele dia, e essa imagem servirá como recordação do mal indescritível que a humanidade é capaz de provocar. Aquela imagem marcou a minha vida. Mas, por fim, me proporcionou uma missão, uma causa. Hoje, dou graças a Deus por essa foto. Hoje, dou graças a Deus por tudo, inclusive por esse caminho. Especialmente por esse caminho”, conta a vietnamita em Christianity Today.
Kim Phuc explicou que “olhando para trás, para as últimas cinco décadas, me dou conta de que essas mesmas bombas que causaram tanto sofrimento também trouxeram uma grande cura. Essas bombas me levaram a Cristo”.
No entanto, ela nem sempre viveu essa história assim. Foi uma conversão já na fase adulta, em que, graças a alguns Evangelhos meio escondidos em uma biblioteca da já comunista Saigon, viu como Cristo também havia sofrido pela humanidade e por fazer o bem, convertendo-se, assim, na grande referência da vida de Kim Phuc.
Convertida em um símbolo comunista
Naquele bombardeio, ela perdeu toda a sua família, e durante anos as feridas lhe causaram uma dor terrível. E quando, em 1982, ela sonhava em estudar medicina, o regime comunista do Vietnã descobriu que ela era aquela menina da foto. Queriam convertê-la em um símbolo do governo.
“Infelizmente, os agentes do governo descobriram que eu era a menininha da foto e vieram me buscar para me fazer trabalhar com eles e me usar como símbolo. Eu não queria e lhes supliquei: ‘Deixem-me estudar! É só o que desejo’. Então imediatamente me proibiram de continuar estudando. (…) Eu tinha a impressão de ter sido sempre uma vítima. Aos 19 anos, eu havia perdido toda a esperança e só desejava morrer”. Por fim, depois de muitos apelos, em 1986 o governo permitiu que Kim se transferisse para Cuba para estudar medicina. Lá ela conheceu Bui Huy Toan, outro estudante vietnamita. Eles se casaram em 1992 e passaram a lua de mel em Moscou. No voo de regresso à ilha caribenha, o casal fugiu quando seu avião aterrissou em Gander (Terra Nova) para reabastecer.
Mas enquanto tudo isso se passava, Kim vivenciou a conversão que mudou radicalmente sua vida e lhe permitiu perdoar aqueles que bombardearam sua aldeia. Kim Phuc foi criada no Cao Dai, ou Caodaísmo, uma religião sincrética que surgiu no Vietnã no início do século XX. Depois daquele bombardeio, ela rezou durante anos àqueles deuses, mas nunca sentiu que era ouvida nem encontrou a paz que buscava.
O encontro com um Novo Testamento
Em seu coração havia apenas ira, amargura e ressentimento pelo sofrimento e dor terríveis por que passava a cada dia. Mas então, em 1982, em um canto da biblioteca central de Saigon, viu os livros de religião. Havia obras sobre o budismo, o hinduísmo, o islamismo e o caodaísmo. Mas também havia uma cópia do Novo Testamento. Ela começou a examiná-lo e então não conseguiu parar de ler.
Kim recebendo o prêmio pela paz na cidade de Dresden, completamente destruída durante a II Guerra Mundial.
“Uma hora depois, eu encontrara o caminho através dos Evangelhos, e ao menos dois temas haviam se tornado muito claros para mim“, afirmou Kim Phuc Phan.
O primeiro ponto era a diferença que havia entre Jesus e a fé em que a haviam educado desde criança, quando lhe disseram que havia muitos deuses e inúmeros caminhos até a santidade, e que tudo dependia do esforço de cada um. Contudo, Jesus se apresentava como “o caminho, a verdade e a vida”. “Parecia” – explicou Kim – “que todo o Seu ministério marcava uma espécie de afirmação direta: ‘sou a maneira pela qual você chega a Deus; não há outro caminho senão eu'”.
Em segundo lugar, chamou a atenção de Kim, de modo poderoso, tudo o que Jesus havia sofrido. Zombaram dele, torturaram-no e depois o assassinaram. “Por que Ele suportaria essas coisas, eu me perguntava, se de fato era Deus?”
O dia em que decidiu que queria ser cristã
Esse Jesus a cativou. “Quanto mais eu lia, mais acreditava que Ele realmente era quem dizia ser, que havia feito o que dizia ter feito e que, o mais importante para mim, realmente faria tudo o que havia prometido”, assegurou a ativista vietnamita.
Assim, ela compreendeu que era o cristianismo que poderia ajudá-la a entender sua dor e também a aceitar suas cicatrizes. Essa compreensão se materializou no Natal de 1982, quando foi a uma pequena igreja de Saigon. Ouvindo o pastor, deu-se conta de que algo em seu interior estava mudando.
Quase cinquenta anos depois, as marcas do napalm continuam muito presentes em Kim.
“Eu necessitava desesperadamente de paz, amor e alegria. Eu tinha muito ódio no coração, muita amargura. Queria deixar de lado toda a minha dor e continuar com a vida, em vez de agarrar-me às fantasias de morte. Eu queria esse Jesus”, recordou-se Kim.
A graça de poder amar seu inimigo
Naquele Natal, Jesus verdadeiramente nasceu em seu coração e ela encontrou a paz que por tanto tempo vinha buscando. “Quase meio século se passou desde que me vi correndo, assustada, despida e com dor por aquele caminho no Vietnã. Nunca esquecerei os horrores daquele dia: as bombas, o fogo, os gritos, o medo. Tampouco esquecerei os anos de prova e tormento que se seguiram. Porém, quando penso como cheguei longe, na liberdade e na paz que vêm da fé em Jesus, me dou conta de que não há nada maior nem mais poderoso do que o amor de nosso Salvador abençoado”, confessou.
Esse entendimento a fez perdoar e até mesmo abraçar os pilotos americanos que lançaram as bombas que a feriram e mataram sua família. Essa fé lhe permitiu rezar por seus inimigos e não maldizê-los, para poder amá-los de verdade. Por isso ela afirma que hoje pode dar graças a Deus por aquela foto.
Tradução: Lúcia Cunha
Publicado em Religion em Libertad:
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