Urgente: precisa-se do Espírito Santo
Ir. Martina Braga OSB
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Deus nos cerca de todos os lados. Ele nos criou e nos sustenta a cada momento. E, no entanto, nós não O percebemos, não O buscamos ou mesmo O rejeitamos. Nem sempre, é verdade. Há momentos na vida – geralmente momentos de perigo e de medo – nos quais a maioria de nós volta àquela fé profunda e escondida que marca cada coração humano. Mas em meio ao corre-corre diário, a verdade é que geralmente contamos muito mais com a nossa suposta autossuficiência do que com a graça de Deus. E, ainda assim, Deus, na Sua bondade, nos oferece a Sua Mão a cada esquina da vida.
O Espírito Santo é, nesse sentido, a mais esquecida das Pessoas da Trindade. Nós, cristãos, recorremos continuamente ao Pai, o Criador – como recorrem também Judeus e Muçulmanos. Invocamos o Nome do Senhor Jesus, o Redentor, em inumeráveis oportunidades – tantas delas sem pensarmos no que dizemos… Mas quando é que nos lembramos de pedir especificamente a Luz do Espírito Santo, o Santificador? E, no entanto, é Ele que nos guia, nos ensina, nos aconselha, nos dá força e sabedoria. Frente a um problema, buscamos freneticamente mil soluções quando deveríamos sempre fazer lugar, antes de tudo, a essa Inspiração que fala, serena mas firme, no fundo da nossa alma.
A antiga tradição cristã menciona sete dons do Espírito Santo. No Sacramento da Crisma, o Espírito de Deus nos unge e nos marca, através desses dons, como cristãos maduros. Ele transforma a nossa alma, como transformou as almas dos primeiros Apóstolos. Ele tira de nós o medo, a covardia, a ansiedade, a dúvida, a fraqueza, a ignorância, o pecado. Quando O recebemos com coração sincero e humilde, Ele enche as nossas vidas de coragem, de fé, de sabedoria, de virtude, de força. Sem Ele, somos corpos mortos. É o Seu sopro que nos faz verdadeiros filhos de Deus.
Pensemos em algumas situações comuns e correntes da vida. Imaginemos um jovem que luta interiormente por redescobrir a sua fé. Nasceu e foi criado num ambiente cristão, mas a vida muito secularizada do mundo acabou por fazer arrefecer a sua piedade e criar nele fortes dúvidas sobre a existência de Deus. Mas ele busca ainda. Reconhece o valor de tantas pessoas boas que creem em Deus e sente falta de uma parâmetro espiritual e moral para a sua própria vida. Lê um pouco da Bíblia mas ela lhe soa como um conto de fadas. Tenta rezar, mas a sua sensibilidade está seca. Procura um padre, mas não encontra nele respostas que o satisfaçam. Finalmente, um dia, desconsolado e decidido a abandonar definitivamente a crença da sua infância, ele se senta num banco da paróquia, sozinho, e faz uma última oração sincera: ‘Deus, se o senhor existe, dê-me um sinal.’ Ele espera alguns minutos, na expectativa de que alguma luz apareça ou alguma voz lhe fale de repente. Mas nada acontece. Amargurado e doído, sentindo que a vida não é mais do que uma sucessão de acontecimentos sem sentido, ele sai da igreja. Na porta, do lado de fora, há um mendigo sujo, malcheiroso. Convencido agora de que o seu desejo íntimo de amor não tem nada de religioso mas é apenas uma natural solidariedade biológica que deve ser encaminhada na linha de ideologias ateias, ele para, oferece dinheiro ao mendigo e lhe dá um tapinha amigo no ombro. O mendigo olha prá ele com seus olhos sofredores mas sorridentes: ‘Deus o abençoe, rapaz…’ E, naquele instante, sem saber como, o jovem compreende tudo. Ele vê Deus, por assim dizer, nos olhos do mendigo. Ele entende que as palavras do Evangelho são, na verdade, o que há de mais profundo e realista no universo. Ele vai andando pela rua e o mundo, há pouco escuro e vazio, apresenta-se agora como um enorme desafio de amor. Ele não sabe o que dizer e balbucia simplesmente ‘Obrigado, Senhor, obrigado…’ Lágrimas lhe sobem aos olhos enquanto seus passos se fazem firmes e decididos. A essa inspiração do Espírito Santo que nos faz intuir profundamente a realidade de Deus a Igreja chama o dom do entendimento.
Imaginemos agora uma mulher, médica, casada, mãe de três filhos. Pessoa honesta e capaz, boa profissional, esposa e mãe fiel. Mas há problemas de todos os lados. O trabalho lhe exige mais tempo do que ela gostaria de gastar nele. É um emprego competitivo e ela acha essencial ganhar mais e permanecer no topo da carreira. A vida da família é cara, ela quer para si e para os filhos as melhores chances materiais. O marido é boa pessoa e há entre eles um amor verdadeiro, mas ele tem um temperamento oposto ao dela, muito mais descansado e caseiro, menos interessado em fazer dinheiro e subir na profissão, e isso a frustra. Os filhos adolescentes exigem cuidados que necessitam tempo e atenção dos pais. Tudo parece se complicar. Discussões se tornam o normal. Desentendimentos se perpetuam. A atmosfera familiar se ressente e os filhos começam a desenvolver problemas sérios. Zangada e desapontada, a mulher não sabe o que fazer. Num momento solitário, ela resolve procurar alguma leitura espiritual que possa aconselhá-la. Depara-se com palavras do Papa João Paulo II sobre o casamento e a família. Ela lê avidamente. Parece-lhe que o papa está-lhe falando pessoalmente. Gradualmente, com o passar dos dias e na medida em que ela se aprofunda em boas leituras, as coisas vão retomando o seu lugar. Ela percebe os seus erros, mesmo se não mal-intencionados e faz uma boa confissão. Entende que o amor do marido e dos filhos é absoluto enquanto a sua carreira é relativa. No trabalho, passam a vê-la mais humana e menos ambiciosa. Sacrifica horas profissionais para estar com os filhos, ouvi-los, acompanhá-los, amá-los. Ao fim de um ano, os amigos vêm uma família renovada, unida e serena. As crianças já não estudam na escola mais cara e o dinheiro sobra para ajudar os mais pobres. O tempo antes gasto na frente da televisão é agora transformado em cultura mais profunda, em boa convivência e em interesse pelos outros. E há sempre uma curta e confiante oração diária. A essa inspiração do Espírito Santo que nos faz entender o que Deus quer de nós em relação ao mundo e às criaturas a Igreja chama o dom da ciência.
Pensemos em seguida num homem velho, pobre e inculto. Alguém para quem elementos da vida como conforto material, chances intelectuais ou tranquilidade financeira nunca existiram. Nascido na pobreza e forçado a viver nela pelas circunstâncias da vida e pelo altruísmo de coração, que preferiu deixar aos outros parentes as melhores oportunidades, esse homem chega à velhice, porém, sem amargura nem lamentos. Pai de muitos filhos, pessoa de profunda bondade e honestidade, homem provado pelo sofrimento e pelas dificuldades e, no entanto, de uma integridade moral absoluta e uma fé simples e robusta, o bom velho é um desses pilares da humanidade, firmes, sólidos, inquebrantáveis. Já meio cego, senta-se discretamente toda tardinha num banco de madeira do lado de fora de casa, fumando o seu dilapidado cachimbo. Muitos se dirigem a ele, com respeito e afeto, e encontram sempre uma palavra boa e bem-humorada. Um dia apresenta-se um jovem repórter que vem fazer uma entrevista sobre a gente pobre do local. Cheio de indignação e entusiasmo político, o jovem pergunta ao velho: ‘O senhor, nessa idade, não se sente traído? Uma política corrupta e egoísta lhe oprimiu a vida… Como o senhor suporta isso? Diga uma palavra ao meu jornal e reclame de todas as injustiças que sofreu por parte da sociedade!’ Os olhos que já vêm pouco se voltam com ar bondoso. Por alguns minutos o velho mantém um silêncio afável. Depois tira o cachimbo da boca e diz com voz tranquila: ‘Menino, para mostrar os sofrimentos da vida dos pobres, todo o seu jornal seria pequeno… Mas todas as pessoas têm os seus defeitos e dificuldades e não sou eu que devo julgar. Não me sinto traído, porque o bom Deus vê tudo. E Ele me deu muito na vida… Há muita corrupção, sim, e me alegra que você lute contra ela. Mas escreve aí no seu jornal, menino, que de Deus não há como escapar… e é melhor a gente se preparar pra encontrá-Lo um dia, todos nós, ricos e pobres…’ O jornalista vai embora frustrado. Em lugar de brasas para a sua radicalidade ideológica, ele encontrara um sopro fresco de bondade e fé. Ele não se abre a esta inspiração do Espírito Santo que oferece, mesmo às pessoas sem estudo, a arte de entender a vida segundo a verdade de Deus e a que a Igreja chama o dom da sabedoria.
Pensemos agora numa freira. Mulher simples mas experimentada pela vida. Acostumada à oração profunda e ao trabalho constante pelos outros, ela possui essa espécie de intuição divina que sabe ver as coisas com os olhos de Deus. Sua bondade realista, seu contato humano com pessoas de todo tipo e, sobretudo, sua abertura sincera à voz de Deus fazem dela um ponto de atração para todos aqueles que têm que tomar decisões complicadas nos seus caminhos. Jovens discernindo a sua vocação, velhos deprimidos pelas limitações da idade, gente casada com problemas na família, sacerdotes em crise, profissionais que se deparam com dilemas morais no trabalho, pessoas insatisfeitas ou pecadores que buscam de alguma forma reconciliar-se com Deus, para todos eles a boa Irmã tem uma palavra amorosa e sábia. Ela fala pouco, ouve muito. Muitas vezes a sua resposta é apenas um silêncio que mostra ao interlocutor que, na verdade, ele mesmo já sabe a resposta. Outras vezes sua contribuição é apenas um sorriso de alegria, outras uma lágrima que acompanha na dor. Mas, quando esperam dela soluções prontas, ela invariavelmente afirma: ‘Deus te fez livre e a decisão é sua, ninguém pode tomá-la por você. Reze e pense. Eu posso só ajudar a rezar e a pensar.’ Em outras ocasiões, querem fazer dela uma espécie de oráculo do convento, com coluna no jornal e agenda para encontros. Ela recusa-se peremptoriamente: ‘As pessoas não me buscam, elas buscam a Deus. Se eu deixar de lado minha vida de trabalho e oração para me fazer importante, então como posso ajudar às pessoas a encontrar a Deus?’ Humilde, discreta e fiel, quantas vidas, quantas almas, quantas famílias, quantas vocações, quantos corações Deus não salva através dessa boa Irmã… A essa inspiração do Espírito Santo que nos ajuda a vislumbrar a vontade de Deus nas difíceis decisões da vida a Igreja chama o dom do conselho.
Um sacerdote ainda jovem está em profunda crise. Sua fé parece esvair-se, embora ele ainda a pregue aos outros. Sua oração é sem vida. Seus pensamentos se detém em todo tipo de coisas, menos em Deus. A vida da paróquia parece-lhe um mero trabalho administrativo. Ele tenta corrigir-se com severidade exagerada: obriga-se rezar longo tempo durante a noite, come menos, lê obras secas e complicadas de teologia. Isso não só não o ajuda como lhe faz exausto física e moralmente. Como é de se esperar, a tentação ataca-lhe então pelo outro lado. Ele diz a si mesmo que precisa de conforto e passa a comer e a dormir demais, rezar muito rapidamente e sobretudo distrair-se com todo tipo de atividades. Compra um smartphone, passa muito tempo na internet, suas leituras se tornam cada vez mais superficiais, sua vida cada vez mais mundana. O celibato lhe parece de repente um peso insuportável e a liturgia uma perda de tempo. O povo percebe. As queixas chegam ao Bispo. O padre jovem é mandado de férias à paróquia de um sacerdote sábio e santo. Este fala pouco e observa muito. Vê o estado triste da alma do mais jovem, pressente o perigo espiritual. Trata-o com firmeza mas com cordialidade. Isso surpreende o mais novo, que esperava broncas severas. Ele se deixa tocar por essa caridade e acaba por abrir a alma. Depois de ouvi-lo, o velho sacerdote lhe diz: ‘Você tem boa formação e uma vocação verdadeira. Também tem boa intenção, e por isso me expõe abertamente as suas dificuldades. Não lhe falta nada. Só o amor.’ O jovem se surpreende: ‘Amor? E onde eu vou achar amor na vida dura de padre?’ O velho olha-o de frente: ‘Na fonte. Em Deus. E não se engane: toda a vida sacerdotal é uma questão de amor. Se você me permite, vou lhe fazer uma proposta: durante duas ou três semanas você acompanha obedientemente a minha rotina. Depois disso, segue o seu caminho. Aceita?’ O jovem padre pensou um momento e se decidiu: ‘Sim… talvez Deus me ajude dessa forma…’ Os primeiros dias foram árduos. Dormir e acordar bem cedo, comer o suficiente mas na hora certa, atividades paroquiais intensas mas restritas a um tempo determinado e internet só para coisas úteis e importantes. Contato frequente e saudável com as pessoas mas sem familiaridades. Dedicação séria e pessoal aos doentes, aos pobres, às pessoas que vinham confessar-se. Em lugar de restaurantes e cinema, pequenos prazeres como uma sobremesa especial ou um bom filme em casa, no dia de folga. Leituras cultas, inteligentes e boas, tanto religiosas como seculares. E o principal: diariamente a Santa Missa, o Breviário, o Terço, a adoração do Santíssimo, a meditação simples da Sagrada Escritura. Às vezes se notava o velho padre cansado dos trabalhos do dia mas a sua fidelidade era total e inquebrantável: era mais fácil que ele se esquecesse de comer e de dormir do que de rezar. Isso tudo, porém, sem uma gota de sentimentalismo ou de exageros. O efeito não demora a fazer-se sentir no mais jovem. Ele não se sente de repente renovado como quem faz exercício físico ou curado como quem toma um remédio. O que ele percebe é que a sua vida está de novo centrada e rodeada do amor de Deus. E, gradativamente, tudo o que era antes um peso passa a ser encarado como um desafio cheio de alegria, paz e interesse espiritual: a liturgia, o celibato, a ajuda aos outros, os sacramentos. Um mês depois, o mais velho lhe comenta na hora do almoço: ‘Acho que vou descansar um pouco… a velhice tira a força da gente.’ Ao que o jovem lhe responde, muito tranquilamente: ‘Eu vou aproveitar esses minutos livres para ir à capela. Tive tanto trabalho que sinto saudades do Santíssimo Sacramento.’ Os dois se entreolham e de repente riem-se alto. ‘O senhor pode escrever ao Bispo’, diz o mais novo. ‘Diga-lhe que a sua amizade e a misericórdia de Deus me salvaram a vocação…’ A essa inspiração do Espírito Santo que nos faz dedicar, amorosamente, tempo e atenção a Deus a Igreja chama o dom da piedade.
Imaginemos agora uma jovem de vinte e poucos anos. Numa única semana a sua vida parece desabar. Na segunda-feira ela perde o emprego, sem culpa própria. Na quarta-feira ela recebe uma comunicação da universidade: a esperada bolsa de doutorado não saiu. Na quinta-feira recebe a notícia de que o pai, viúvo e e de muita idade, já nao pode viver sozinho e precisa dela. Todos os seus planos se desfazem. Pelo menos há o noivo… embora ela saiba, lá no fundo, que não pode contar muito com ele. Dito e feito: quando ouve a história do emprego, da bolsa e do pai, o noivo dá uma desculpa, pela milionésima vez, e diz que não pode vê-la. Na sexta-feira ela descobre o porquê: uma amiga em comum tinha-lhe roubado o noivo. Tudo assim, junto, dói muito e a desestabiliza inteiramente. Ela sente desânimo e amargura. Um resfriado forte piora a situação. No sábado ela encontra um colega da universidade. Rapaz endinheirado, muito charmoso, sempre meio apaixonado por ela. Ela nunca lhe dera atenção porque sabe bem que tipo de vida ele leva… Ele mostra pena, oferece o ombro, recebe as lágrimas, reprova o noivo infiel e promete compreensão e apoio, pelo menos por um tempo. A tentação é gigantesca. Ela se sente tão sozinha e desamparada. Que sentido tem se esforçar por fazer o bem se a resposta da vida é sempre tão dura? Não é melhor se render ao momento, sem pensar muito? Ela espirra e tira um lenço do bolso para assoar o nariz, o braço do colega ao redor do seu ombro. E então, junto com o lenço, vem o terço que a mãe, já falecida, lhe dera e que as duas costumavam rezar juntas. A moça olha a cruz. Para o Filho de Deus a resposta do mundo fora a morte. Ele a aceitou e a venceu, redimindo assim a humanidade. E ela? Com amabilidade e firmeza, ela se desenlaça do abraço. No caminho de casa, passa numa igreja e reza com humildade, pedindo a Deus forças. Cinco anos depois a professora universitária, casada com um marido excelente, esperando amorosamente o segundo filho e cuidando com carinho do pai ancião, lembra-se com um sorriso da semana em que quase perdera o seu futuro e agradece a Deus… A essa inspiração do Espírito Santo que nos concede uma força espiritual superior às nossas pobres forças humanas a Igreja chama o dom da fortaleza.
Nosso último exemplo se refere a dois ladrões. Dois irmãos, ainda muito jovens, que só conhecem a vida de rua, sem família estável, expostos a todo tipo de vícios, geralmente famintos e meio adoentados, sem nenhuma chance de uma educação regular. O furto é neles um estilo de vida. Aprenderam com os mais velhos. Passam os dias roubando pequenos objetos, carteiras, mesmo comida, e de noite o seu lazer é comentar sobre a ingenuidade das vítimas. Um dia, porém, o mais velho dos dois aparece entusiasmado. ‘Tem um serviço novo e a gente pode ganhar muito dinheiro!’ O outro mostra-se imediatamente interessado. O primeiro continua: ‘É um cara do outro bairro. Ele mexe com tráfico, você sabe… É perigoso mas ele disse que a gente fica de fora, só faz o que ele disser e não se envolve. É uma casa rica, a filha tá sozinha, e ela compra a coisa, você entende? É só ir lá de noite, passar o pacote e receber a grana. O cara disse que ela está tão dependente que pode ser até que convide a gente para entrar… e aí a gente pode até se divertir com ela um pouco, sabe como é. E passar a mão nalgumas coisas na saída… Ela não vai denunciar, porque está no crime também. E é dinheiro grande, rapaz!’ Para sua surpresa, porém, o rosto do irmão caçula se mostra sério. Com um olhar distante, ele parece escrutar o passado… O outro insiste: ‘Subir na vida, menino, sair dessa miséria! Ou você quer ficar nela?’ O mais novo fala vagarosamente: ‘Você lembra daquela freira que vinha ver a gente? Ela me contou uma vez uma história de Jesus… e de um ladrão que Ele levou pro céu… Eu sempre quis ser como aquele ladrão… O que a gente rouba não é tão ruim assim, as pessoas são ricas mesmo. Mas isso agora… A droga é coisa ruim…. E a menina, sozinha, dependente, como é que a gente pode se aproveitar dela?’ O outro ri, sarcasticamente: ‘Muito tarde, moleque. Já dei a minha palavra por nós dois. O traficante conhece a gente. Não há como voltar atrás agora. Quando você estiver rico, vai esquecer essas criancices…’ O mais novo abana a cabeça: ‘Não… com essas coisas eu não mexo… Deus existe… Isso é coisa grave, ruim…’ Ele foge. Traficantes, porém, não perdoam e punir garotos desobedientes é um bom exemplo para outros. Uma semana depois um policial acha o menino num canto da sarjeta com dois tiros no corpo. O policial conta às pessoas que vêm olhar: ‘Estranho esse pivete… Você sabe o que eu ouvi ele dizer ainda? Algo como: ‘Lembra de mim, Jesus…’ Coitado, estava delirando…’ A essa inspiração do Espírito Santo que nos leva a não brincar com as coisas de Deus e a entender a sacralidade da criação a Igreja chama o dom do temor de Deus.
No mundo de hoje, precisamos ainda com mais urgência desses abençoados dons de Deus. Abramo-nos a sua Luz e peçamos como na liturgia de Pentecostes:
Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons. Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde! No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem. Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente. Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei. Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós! Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele. Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons. Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna!
Texto maravilhoso, e pura verdade, com relação a trindade sempre esquecemos de todos os dons que o espírito santo nos concede para que estejamos mais perto de Deus, texto maravilhoso, amém!