Menu fechado

Quaresma: entre desertos, a promessa de Deus

Por Nuno Melo

Em meados do ano 350 d.C, a Igreja considerou ampliar um hábito característico ao Ciclo Pascal: o tempo de preparação para a morte e ressurreição de Jesus. À época, muito se discutia acerca do insuficiente espaço de oração e meditação destinados a esse tempo – 3 dias, -, tendo em mente a centralidade desse evento para a Fé. Fora decidido, então, que este momento de recolhimento e intensificação dos princípios da crença tivesse a duração de 40 dias.

Quadragésima die Christus pro nobis tradétur” (“No quadragésimo dia, Cristo será entregue por nós”).

“Quaresma” é a abreviação de quadragésima, fazendo referência ao simbolismo do número quarenta edificado pelo Antigo e o Novo Testamento: já que é o tempo em que Moisés permanece no monte Sinai (Êxodo 24:18); quarenta anos dura a viagem do povo judeu do Egito para a Terra Prometida (Deuteronômio 8:2-4); o profeta Elias leva quarenta dias para chegar ao monte Hareb (I Reis 11:42); assim como Jesus é apresentado ao Senhor quarenta dias após seu nascimento (Lucas 2:22), manteve-se retirado no deserto por quarentas dias e quarenta noites  (Mateus 4:2 e Lucas 4:1-2) e eleva-se ao ceús após instruir seus discípulos por, também, quarenta dias (Atos 1:1-3). Todos estes momentos sugerem um tempo de intensa preparação para acontecimentos marcantes na História da Salvação.

 É de se esperar, portanto, que nesses dias correspondentes à liturgia quaresmal (da Quarta-Feira de Cinzas à Quinta-Feira Santa), todos os fiéis, cada qual do seu modo, têm o compromisso de fazer penitência, dedicando-se à oração, exercitando obras de caridade e, principalmente, cumprir as próprias obrigações e observar o jejum/abstinência. Neste I Domingo da Quaresma (18), o Papa Francisco, em cerimônia na Praça São Pedro, ressalta que, assim como Jesus, “somos convidados na Quaresma a entrar a ‘entrar no deserto’, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, em contato com a verdade”. E é neste ambiente de reclusão, de confronto direto com os “animais selvagens” (“vários vícios, ganância de riqueza, vaidade do prazer” etc), mas, ao mesmo tempo, da presença de serviço junto aos anjos, é que estamos submetidos ao escolher nos retirar para o “deserto” na companhia de Jesus. Eis a Quaresma!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *