“Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações” – Atos dos Apóstolos 2,42.
A Fé necessita de ser transmitida, por um mandamento de Jesus deixado a nós na sua Ascenção ao Céu: “Ide e fazei discípulos de todas as nações!” (Mt 28,19). Todos nós também somos chamados a sermos cristãos para os outros, para passamos a quem necessita a fé que Jesus confiou aos apóstolos, para que, enquanto cristãos autênticos, nós desejemos que Deus também chegue a outros. Isso é nosso dever de batizados, de confirmados na fé, como diz São Paulo a Timóteo, dando um testemunho de si próprio (1Tm 2,4).
E nós encontramos aquilo que pertence a nossa fé na Sagrada Escritura e na Tradição viva da Santa Igreja, guardada pelos apóstolos, e seus sucessores, os bispos. A Escritura e a Tradição se pertencem, uma a outra, pois foi através da Tradição, da Fé viva que a Igreja carregava, que, por exemplo, foi formado o Novo Testamento. Antes dos registros escritos, a Fé foi transmitida de forma oral, e continua assim até hoje, em vários locais do mundo, principalmente dentro de nossas famílias, não sendo o texto a forma primordial de se transmitir os conhecimentos da fé.
Peguemos de novo a Constituição Dogmática Dei Verbum, documento do Concílio Vaticano II sobre a Revelação Divina, que vimos em um texto passado. Em seu número 9, está escrito: “Portanto, a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim”.
Santo Hilário de Poitiers, doutor da Igreja, afirmou uma vez: “A Sagrada Escritura está no coração da Igreja, mais que em um pergaminho”. O principal era, e é, a vivência da fé, de uma vida nova, em comunhão. Os Apóstolos, aqueles que Jesus chamou para serem seus mais estreitos colaboradores, a tiveram com o próprio Cristo; e a Igreja, ao nascer, convida outras pessoas a essa mesma comunhão, agora vivenciada de maneira diferente, após a ressurreição de Nosso Senhor: Como vimos no início deste texto, os primeiros cristãos escutavam a doutrina dos apóstolos, partilhavam seus bens, era unidos na fração do pão, e nas orações. E essa união era sempre aberta àqueles que desejassem entrar nessa vida nova.
Assim a fé é transmitida até hoje: como testemunho, os cristãos convidam a outros para descobrirem a comunhão com Deus, se abrir a conhecer o Senhor, e caminhar com Ele. O Papa Emérito Bento XVI já falava que “é urgente e necessário que surja uma nova geração de apóstolos que estejam enraizados na Palavra de Cristo, em condição de dar uma resposta aos desafios do nosso tempo e preparados para anunciar o Evangelho em toda a parte”.
E aí vem a pergunta: poderia a Igreja se enganar em questões de fé? Então, a totalidade dos crentes não pode errar na fé, porque Jesus prometeu aos Seus discípulos que lhes mandaria o Espírito da Verdade para conservá-los na Verdade. E essa é a palavra-chave: conservá-los, ou seja, mantê-los!
Assim como os discípulos acreditavam em Jesus de todo coração, um cristão pode também confiar totalmente na Igreja se procurar o caminho da Vida. Efetivamente, se o próprio Jesus fez dos seus Apóstolos participantes na missão de ensinar, logo a Igreja tem essa função também, — a qual nós podemos chamar de Magistério, — de explicar a fé, instruir os crentes, interpretar a fé com a assistência do Espírito Santo, protegendo-a, assim, de adulterações, não se podendo se calar diante do anúncio da Verdade.
É certo, entretanto, que alguns membros da Igreja podem se enganar e até cometer erros graves, mas a Igreja, como um todo, nunca poderá se desviar da Verdade de Deus, assim, através do tempo, a Igreja transporta uma Verdade Viva, que é maior que ela mesma. Essa verdade, esse tesouro da fé que deve ser preservado é chamado de depositum fidei, ou em português, depósito da fé. Portanto, quando alguma verdade de fé é questionada, ou deturpada publicamente, a Igreja é desafiada a trazer novamente à luz “aquilo em que se creu por toda parte, em todos os tempos e por todos os crentes”, como disse São Vicente de Lérins.