Por Luís Gustavo Santos da Silva.
Para todos aqueles que seguiram/seguem sua caminhada na Santa Igreja Católica, em algum momento já se questionaram acerca do porquê de haver um culto prestado ao Sagrado Coração de Jesus.
Bem, ao longo do calendário litúrgico são dedicados dias e períodos específicos para celebrarmos Nosso Senhor Jesus Cristo de forma especial: o Natal, a Semana Santa, o período Pascal, a Ascensão, Seu Santíssimo Nome, Sua Santa Cruz e Sua presença real na Eucaristia. No entanto, por que prestar culto ao Seu Sagrado Coração?
Em todas essas festividades citadas celebramos momentos importantes da vida de Jesus, seu nome e seus feitos, que mostram como Ele demonstrou seu amor por nós. Entretanto, quis Jesus, em suas aparições à Santa Margarida Maria Alacoque, que tivéssemos uma devoção específica ao Seu Amor por nós.
Seu amor manifestado em seu corpo dilacerado na cruz; e, especialmente, no Seu Coração, fonte da água e do sangue jorrados que nos deram os sacramentos. E que melhor figura para representar o amor senão o coração? Afinal, é o coração, diz a Tradição, fonte de todos os desejos, sentimentos e propósitos humanos. (1)
E para melhor compreendermos o motivo de celebrarmos esta festa, é preciso entender o conteúdo de suas aparições e a importância que elas têm para a Igreja.
As aparições a Santa Margarida e suas mensagens
Embora, houvesse outros místicos que já cultivavam a devoção ao Sagrado Coração de Jesus na Idade Média como os alemães Matilde de Magdeburg (1212-1283), Matilde de Hackeborn (1241-1298), Gertrudes de Helfta (1256-1302) e o Beato dominicano Enrico Suso (1295 – 1366); foi a partir das aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa da Visitação, que essa devoção passou a ter uma difusão maior. (2)
Em Suas aparições à Santa, destacam-se três onde Nosso Senhor traz mensagens que alcançam toda a Igreja Católica, exprimindo Sua vontade: que Seu Sagrado Coração seja adorado pelos pecadores, em forma de coração de carne, simbolizando Seu amor por nós. Por isso que essas aparições são reconhecidas como “GRANDES APARIÇÕES”. (3)
Primeira aparição
Em 27 de dezembro de 1673, Santa Margarida estava adorando o Santíssimo Sacramento, até que, entregando-se ao Espírito Santo, Nosso Senhor apareceu à santa e ela repousou em Seu peito, assim como o discípulo amado o fizera na Última Ceia. A partir deste momento, Jesus passou a revelar-lhe seu desejo ardente em ser amado pelos homens e de tirá-los do caminho da condenação.
‘’O meu divino Coração está abrasado de amor para com os homens, e em caridade, precisa derramá-las por teu meio e manifestar-se a eles, para enriquecê-los com seus preciosos tesouros. Eu os mostro a ti: contém a graça santificante e as graças salutares indispensáveis para afastá-los do abismo da perdição. Eu te escolhi, qual abismo de indignidade e ignorância, para a realização desse grande desígnio, para que tudo seja feito por mim.” (AUTOBIOGRAFIA DE SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE. Edições Loyola. p.56.)
Durante a aparição, Jesus marcou o coração de Santa Margarida com uma chaga, sinal que lhe traria mais sofrimento e humilhação. E enquanto ela recebia esta mensagem, o Sagrado Coração apareceu como num trono de chamas, mais brilhante que o sol e mais transparente que o cristal, com a chaga aberta pelo soldado na cruz bem visível, circuncidado pela coroa de espinhos e uma cruz no topo de Seu Coração. (3)
Segunda aparição
Nesta aparição, Nosso Senhor concedeu à Santa Margarida uma grande graça que seria base de várias outras que viriam, deixando uma dor permanente no coração chagado da santa como sinal.
A partir deste momento, o Sagrado Coração passou a manifestar-Se nas primeiras sextas-feiras como sol radiante e fornalha ardente a ela, que fora considerada como discípula dileta de Seu Coração por Ele. Esta é considerada como segunda grande aparição por conta desta revelação:“Uma vez, entre outras, quando estava o Santíssimo exposto, depois de ter-me sentido retirada de dentro de mim mesma, com um recolhimento muito grande de todos os meus sentidos e minhas potências. Jesus Cristo, meu doce Mestre, apareceu-me todo radiante de glória com as cinco chagas, brilhantes como cinco sóis. Sua sagrada humanidade lançava chamas de todos os lados, mas sobretudo de seu peito sagrado, que parecia uma fornalha. Abrindo-o, mostrou-me seu amantíssimo e amabilíssimo Coração, que era a fonte viva daquelas chamas. Foi então que ele revelou-me as maravilhas inexplicáveis de seu puro amor, e o excesso a que chegara em amar os homens, de quem não recebia senão ingratidões e friezas”. (AUTOBIOGRAFIA DE SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE. Edições Loyola. p.58.) (grifo nosso)
Terceira aparição
Esta aparição ocorreu no ano de 1675, durante a oitava de Corpus Christi. Santa Margarida estava, novamente, em adoração ao Santíssimo Sacramento, até que passou a receber grandes graças de Deus e sentiu-se obrigada a retribuir-Lhe de algum modo, pagando-O com seu amor. Em seguida, o Sagrado Coração lhe dá uma nova revelação dizendo:
“Eis o coração que tanto tem amado os homens, que a nada se poupou até se esgotar e consumir para testemunhar-lhes o seu amor; e em reconhecimento não recebo da maior parte deles, senão ingratidões por meio das irreverências e sacrilégios, tibiezas e desdéns que usam para comigo neste Sacramento de amor. E o que mais me custa, é tratar-se de corações a mim consagrados os que assim me tratam. Por isso, que seja constituída uma festa especial para honrar meu Coração na primeira sexta-feira depois da oitava do corpo de DEUS. Comungue-se, nesse dia, e seja feita a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo que fica exposto sobre os altares. Eu te prometo que o meu Coração se dilatará, para derramar com abundância os benefícios de seu divino amor sobre os que lhe tributarem essa honra e procurarem que outros a tributem”.(AUTOBIOGRAFIA DE SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE. Edições Loyola. P 88.)
E, assim, Nosso Senhor instituiu a festa dedicada ao Seu Sagrado Coração!
A Igreja e a festa do Sagrado Coração
Em sua encíclica sobre o culto ao Sagrado Coração “Hauretis Aquas”, o Papa Pio Xll nos dá um histórico da aprovação da festa do Sagrado Coração pela igreja:
- O Papa Clemente XIII aprovou, por decreto de 25 de janeiro de 1765, a 6 de fevereiro do mesmo ano, que a Sagrada Congregação dos Ritos concedesse aos bispos da Polônia e à arquiconfraria romana do Sagrado Coração de Jesus a faculdade de celebrar esta festa litúrgica;
- Quase um século depois, o Papa Pio IX, acolhendo as súplicas dos bispos franceses e de católicos ao redor do mundo, decretou através da Sagrada Congregação dos Ritos, em 23 de agosto de 1856, que esta festa se estendesse a toda a Igreja e que houvesse uma prescrição de sua celebração litúrgica;
Além disso, em 25 de maio de 1899, o Papa Leão XIII, escreve sua carta encíclica “Annum Sacrum”, decretando que toda a Igreja se consagre ao Sagrado Coração de Jesus e assim foi feito.
E no ano de 1995, o Papa São João Paulo II instituiu o dia desta festa como o “Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero”, a fim de que o sacerdócio fosse protegido pelo Sagrado Coração, para ser aberto a todos. (2)
Portanto, não nos faltam motivos para que nos esforcemos em celebrar este belíssimo dia e podermos nos dedicar a corresponder este amor que Cristo tem por nós com todo o nosso coração!
Deus te abençoe!
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, FONTE DE MISERICÓRDIA, QUE PERMITIU SER SACRIFICADO E PREGADO NA CRUZ, TER SEU SAGRADO CORAÇÃO TRANSPASSADO POR UMA LANÇA, PARA NOS SALVAR, EU CONFIO EM VÓS.