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Um Coração que ainda bate

Por Redação Infovaticana

17 de junho de 2023

(Franco Serafini em Il Timone)

A lição dos milagres eucarísticos no Coração de Jesus nos fala de um homem que sofre, portanto vivo. Estudos científicos recentes revelaram lesões por exposição a alta energia eletromagnética.

A história do cristianismo está repleta de milagres eucarísticos: o Céu sempre os concedeu em generosa abundância para sustentar a nossa frágil fé (estou convencido de que as poucas centenas registadas nos anais são apenas a ponta de um iceberg muito maior).

Nos últimos cinquenta anos assistimos a algo inédito e surpreendente: os milagres eucarísticos, sujeitos a estudo científico, falam-nos na linguagem da medicina forense. Para o homem do nosso tempo, tão sensível às questões científicas e tecnológicas, esta é uma ocasião excepcional. Os milagres eucarísticos revelam-se então como um enigma fascinante na sua complexidade irredutível e sofisticada, mas também desencadeiam um enorme potencial apologético e uma capacidade única de falar ao coração dos simples fiéis.

Sim, o coração! Um aspecto certamente surpreendente dessas investigações científicas é a demonstração da presença imperecível de tecido miocárdico humano que brota prodigiosamente e se compenetra em nível mais que microscópico com as espécies visíveis de pão. O autor dos milagres eucarísticos conhece bem o ser humano e sabe que o coração não é um órgão como os outros, mas é dotado de um poderoso simbolismo, reconhecido e partilhado pelos homens de todos os tempos e culturas. Este retorno do órgão que constitui o centro vital e espiritual das criaturas não é acidental, nem a referência à espiritualidade do seu Sagrado Coração, infelizmente tão negligenciada pelos cristãos de hoje.

Sofredor

Como cardiologista, porém, gostaria de chamar a atenção do leitor para um nível muito mais físico e concreto. O coração que encontramos nas placas de Buenos Aires, Tixtla, Sokółka e Legnica (cito  quatro eventos reconhecidos pela Igreja Católica nos últimos anos) apresenta sinais de sofrimento muito marcantes. Essas alterações se devem a dois fenômenos: por um lado, a inflamação do tecido miocárdico, que é infiltrado por numerosos glóbulos brancos, como os macrófagos neutrófilos, e, por outro, as fibras musculares cardíacas apresentam fragmentação, segmentação e necrose com bandas de contração. Por trás dessa linguagem descritiva altamente técnica é possível ler claramente um diagnóstico muito preciso: é o coração de um homem sofrendo um tipo específico de infarto. Não é o infarto comum que resulta da obstrução aguda de uma artéria coronária, expressão da ação de fatores de risco comuns como a hipertensão, a hipercolesterolemia ou a diabetes. É antes uma cardiopatia devido a um estresse físico ou emocional muito intenso. É o tipo de ataque cardíaco que faz com que um pai, ao saber da morte de um filho, ou no auge de uma discussão furiosa, ou quando se envolve em um acidente de carro, desmaie e às vezes até morra. O pobre paciente sofre de dores no peito, alterações no eletrocardiograma e exames laboratoriais como em um infarto clássico, mas na

angiografia (realizada com urgência para desobstruir a coronária doente) as artérias estão ilesas. A causa desta doença cardíaca devastadora e com risco de vida é a liberação excessiva de adrenalina e outras catecolaminas por nossos órgãos. Além de um certo limite, essas substâncias são tóxicas para o nosso coração e produzem aquelas alterações que encontramos nas lâminas dos milagres eucarísticos.

Impressionou-me a consonância deste diagnóstico com as teorias mais recentes sobre a morte de Jesus de Nazaré, que complementam os poucos mas significativos dados “clínicos” dos Evangelhos da Paixão e os testemunhos “fotográficos” do Sudário de Turim.

Há um consenso crescente entre os estudiosos de que o mecanismo final da morte do Nazareno foi, com toda a probabilidade, uma ruptura do coração como uma complicação de um infarto relacionado ao estresse, cujo início deve ter sido no Getsêmani. Na cruz, o coração é dilacerado, fazendo com que o sangue vaze para o pericárdio, resultando em morte imediata. Entre outras coisas, esta teoria explica o subsequente derramamento de sangue e água após o golpe de lança no lado.

É evidente, então, que na medicina forense eucarística, o dogma da transubstanciação, a teologia da redenção e a mística do Sagrado Coração sofredor e traspassado se encontram e se referem de maneira admirável.

Não sou teólogo, mas mesmo como um simples crente, sinto que posso acrescentar que esta realidade muito concreta e objetiva da carne e do sangue sofredor chama a atenção para o aspecto dramático, terrível e, em última análise, sacrificial da Eucaristia. É possível que gostemos mais da leitura convivial e comunitária da Eucaristia que se acentuou nas últimas décadas, mas a linguagem dos milagres eucarísticos parece centrar-se na realidade do sacrifício.

Vivo

E isso não é tudo. Nos tecidos extraídos e estudados dos milagres eucarísticos, por vezes anos após o seu prodigioso aparecimento neste mundo, é possível encontrar células inexplicavelmente vivas. Por exemplo, misturadas com fibras musculares cardíacas já necrosadas e, portanto, mortas, podem estar células sanguíneas, como glóbulos brancos, ainda vivas no momento da preparação histológica. Este é um fato humanamente inexplicável, que atesta a existência de um corpo humano inteiro, invisível, vivo e funcionando, do qual os tecidos visíveis do Milagre Eucarístico continuam a extrair sangue e vida… Esta coexistência de vida e morte na mesma lâmina histológica me parece fascinante e chocante ao mesmo tempo – um fenômeno louco nesta terra, mas que pode ser interpretado como uma antecipação de uma realidade celestial onde o Filho de Deus será eternamente adorado como um ser vivo, mas com um corpo glorioso que traz os sinais da morte, morte pela qual passou (o Cordeiro de pé, mas eternamente imolado de Ap 5,6).

Ressuscitou?

Mas ainda há mais. Há alguns meses, fui contatado por dois estudiosos, especialistas internacionais em medicina forense e patologia no campo ultra especializado de lesões por choque elétrico. Fiquei chocado ao reconhecer nas descobertas publicadas em meu livro a presença de lesões por exposição à alta energia eletromagnética, que até então ninguém havia notado.

Lembro que na sindonologia moderna se levanta a hipótese de que a formação da imagem do Sudário, misteriosa e irreprodutível até hoje, pode ser atribuída a algum tipo de descarga instantânea de alta energia, coincidindo com o retorno à vida do Homem envolto no próprio sudário.

Afinal, na Eucaristia não há limite para a abundância e sobreposição de significados e isso não pode deixar de se refletir nos prodigiosos fragmentos de tecido humano que nos é dado conhecer e estudar. Se a medicina forense demonstra nos milagres eucarísticos a presença de um coração que sofreu e sofre, que morreu mas também está incrivelmente vivo, por que se surpreender se esse coração também carrega os sinais da Ressurreição?

Publicado por Franco Serafini em Il Timone

Un corazón que aún late

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